O modelo cosmológico padrão (teoria do Big Bang) permite calcular as quantidades dos isótopos helio-4, do hélio-3, do deutério e do lítio, quando comparadas com a do hidrogénio-1 (prótio).
As razões das massas dos isótopos previstas pela teoria do Big Bang seriam de cerca de 0,25 para a razão 4He/H, cerca de 10-3 para 2H/H, cerca de 10-4 para a razão 3He/H e cerca de 10-9 for 7Li/H.
Abundâncias relativas dos isótopos dos elementos leves (padrão-hidrogénio) em função da densidade do Universo.
Crédito: Departamento de Física da Universidade de Oregon No entanto, a quantidade de hélio-3 detectada no Universo é (tal como do litio primordial) bastante inferior àquela que é detectada pela cosmologia padrão e pelas teorias de evolução estelar. Peter Eggleton, investigador do Laboratório nacional de Lawrence Livermore nos EUA e os seus colegas da Universidade de Monash na Austrália calcularam que quando as estrelas de pequena massa envelhecem e se tornam gigantes vermelhas, puxam para o seu interior a grande quantidade de hélio-3 que produziram o que resulta na sua queima.
O isótopo hélio-3, conjuntamente com o isótopo hélio-4 e os isótopos do hidrogénio e do lítio, é um dos raros elementos criados pelo Big Bang. Os restantes elementos só terão sido criados mais tarde no interior das estrelas. No entanto, quantidades suplementares de hélio-3 são também produzidas nas estrelas de pequena massa (com uma a duas massas solares) quando queimam o hidrogénio nos seus núcleos.
Mas depois da estrela ter consumido todo o seu hidrogénio, vai expandir-se até se tornar uma gigante vermelha e nessa altura as suas camadas mais exteriores vão tornar-se turbulentas. Anteriormente acreditava-se que essa turbulência levaria à emissão de grandes quantidades de hélio-3 para o espaço com os ventos estelares, o que deveria resultar na observação de uma quantidade de hélio-3 observada superior à que resulta directamente do modelo do Big Bang, o que não se verificava.
No entanto, a equipa de Eggleton modelou o interior estelar a 3 dimensões e demonstrou que o hélio-3 estará provavelmente a ser transportado pela forte convecção para o interior da estrela e a ser queimado de modo a formar hélio-4 e hidrogénio. Fica deste modo, explicado.
"O problema aparente do Big Bang foi resolvido," disse John Lattanzio da Universidade de Monash . "O hélio-3 do Universo provém do Big Bang e das estrelas de pequena massa que, embora o produzam, não o libertam para o espaço porque o destroem."
Fonte: Centro de Ciência Viva do Algarve