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Citação:
Mas já agora.. Com uns modestamente exagerados binóculos 12x50, e fazendo as contas a uma resolução do olho humano de 0,3 minutos de arco (18 segundos-de-arco), 18 / 12 = 1,5 segundos de arco corresponderiam ao menor ângulo de céu que o olho conseguiria distinguir. Portanto, se o olho humano fosse uma película fotográfica, que fosse sensível a uma mudança de posição da estrela durante todo o período de rotação do parafuso-sem-fim (responsável pelo erro periódico (EP)) então o EP (medido da maneira convencional) teria que ser menor que 1,5/2 segundos de arco para cada lado ( ... ).
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Nota de Guilherme de Almeida
Olá,
Trata-se de um curioso e interessante exercício de cálculo, o que é sempre de valorizar. Mas é preciso partir de dados realistas.
Sem pretender com isto ferir susceptibilidades, há no texto anterior (citado) algumas concepções que não são realistas. Há algo a "especificar". Digo "especificar" para não estar a dizer "corrigir". Analisaremos seguidamente a natureza do problema.
1. De facto o olho humano não resolve 0,3 minutos de arco. E muito menos na observação do céu nocturno. Nas condições de observação do céu, o olho raramente resolve ângulos inferiores a 2 minutos de arco; em geral, o poder separador do olho, perante o céu, será da ordem de 3 a 4 minutos de arco.
2. Em condições laboratoriais controladas, e com alvos de alto contraste, bem iluminados, algumas pessoas dotadas de visão absolutamente excepcional poderão resolver 0,5 minuto de arco, mas isso é raríssimo. É claro que estas condições favoráveis configuram uma situação muito diferente da que se tem ao olhar para o céu nocturno.
Em situações de alto contraste, na observação de fios esticados ou de traços, o olho consegue fazer ainda melhor, pelo facto de a descriminação envolver (fazer uso de) mais células retinianas, mas esse não é o caso da observação do céu nocturno a olho nu, nem sequer com binóculos.
3. Quando o contraste baixa, o poder resolvente do olho piora. Quando a iluminação é fraca e a pupila do olho tem de abrir mais, as aberrações ópticas residuais do olho são muito maiores e o olho só resolve ângulos muito maiores.
Convém referir que o olho só pode ser considerado como um instrumento óptico quase perfeito quando a pupila do olho mede 0,7 mm a 1 mm. Isso pode ser explorado quando se utilizam telescópios, em que a pupila de saída pode ser muito pequena; nesse caso, apesar de a pupila do olho medir até 7 mm, a parte utilizada pode medir menos de 1 mm de diâmetro. A olho nu isso nunca acontece. De dia, a pupila não contrai para menos de 2 mm. De noite, olhando para o céu, raramente medirá menos de 4,5 mm, pelo que, assim, o olho só resolve ângulos bem superiores a 2 minutos de arco.
4. Na visão escotópica, ou seja, na visão nocturna (com bastonetes), pior ainda: nos limites da visão nas observações do céu profundo (nebulosas de baixo contraste em relação ao céu), o olho raramente resolve ângulos menores do que 15 minutos de arco!. Por duas razões:
1- porque a pupila do olho está nessas condições com grande abertura; 2- porque a visão com bastonetes é menos fina do que a visão com cones (equivale a usar uma câmara digital que tivesse píxeis maiores).
Por todas estas razões, no texto agora citado será mais realista partir de um poder separador "nativo" do olho igual a 3 minutos de arco em vez de 0,3 minutos de arco. Por isso, auxiliado por um binóculo de 12x (que seja bom) o olho resolverá 3'/12=180"/12=15 segundos de arco. Isto é um resultado realista, ainda na faixa de um ligeiro optimismo.
Boas observações
Guilherme de Almeida