Fil,
espero que leias isto e não me entendas mal... mas a Bruna, perdão a BRUMA foi recentemente descoberta como património genético português! Não há volta a dar.
E eu partilho da tua opinião em relação à Bruma...
A astronomia portuguesa espelha muito bem outras áreas de interesse em Portugal, e sendo feita por portugueses, com a mentalidade reinante no nosso país, a partilha de informação, o comprometimento e o assumir da responsabilidade de pertencer a um grupo com alguns deveres, não fazem parte do horizonte.
Há alguns tipos neste país que realmente sabem disto e que gostam de ensinar (eu diria antes, partilhar) os truques, as dicas, as bases, apontar rumos e caminhos, fornecer pistas, etc.
Há também por aí muitos tipos que fazem disto uma feira de vaidades...
também há aqueles que já se esqueceram de como foi difícil o seu começo e já não conseguem vir cá abaixo, descer muitos degraus e dar a mão a quem ainda gatinha escadas acima.
E como sempre, são estes que conseguem isolar os verdadeiros amantes das coisas, neste caso, a astronomia amadora, no seu âmago: o puro prazer de observar, de discernir este ou aquele pormenor no planeta, na nebulosa...
Depois claro, estão os problemas relacionados com a distância, a física neste caso (pois com os meios de comunicação actuais, estamos em qualquer ponto do planeta, à distância de um clique) que impedem muitas vezes as deslocações a um determinado local para realizar uma sessão ou um encontro, seja de um ou vários dias. O problema dos custos associados...
A lei natural das coisas é a lei da sobrevivência: só o mais forte vencerá. E neste caso, o mais forte é o mais forte a nível psicológico; conseguir ultrapassar todos os problemas associados ao início de um hobby, extremamente exigente como este; conseguir encontrar um grupo que esteja disposto a encontros frequentes, com partilha de informação e experiências; conseguir que as pessoas se comprometam realmente, e não estejam sempre à procura de desculpas para não irem ou não fazerem...
Claro que lá por fora também há estes problemas, mas a solução é mais fácil porque, sendo nós 10 milhões (alguém sabe quantos AA's temos em Portugal?) e, por ex, os espanhois 40 milhões, é mais fácil eles encontrarem gente com vontade de construir alguma coisa...
Voltamos ao problema da educação (desculpem mas vou usar um termo inglês, coisa que não aprovo muito, porque a nossa língua é muito rica): education e não politeness! Investir na education é algo que não fazemos em Portugal e daí estarmos a pagar esse preço, com todos os indicadores internacionais a serem pouco favoráveis. Quando percebermos que é na educação que podemos avançar e progredir, aí sim, talvez consigamos ter uma AA em Portugal (e bons serviços sociais, cuidados médicos, tribunais, polícia, etc)
Até lá, só nos resta ir batendo com a cabeça aqui e ali, aprendendo com os nossos erros, persistir ou desistir...
Mas claro, não nos podemos esquecer também, que o nível de comprometimento das pessoas para com a astronomia é tão variável como as estrelas que existem no universo.
Mas uma coisa não podemos esquecer: se ficarmos parados à espera que as coisas venham ter connosco... "don't ask what your country can do for you; ask what you can do for your country" sempre actual.
Ufa! que ganda seca...
Tudo isto para te dizer que a Serra da Freita foi um encontro muito proveitoso. Várias sensibilidades, gostos, experiências, equipamento... Disponibilidade total de todos nós (se calhar por semos maçaricos, lembras-te hehehe) para partilhar o muito ou pouco que sabemos. Tudo num espírito de puro prazer de apontar os nossos "tubos" ao céu e deleitarmo-nos com a criação, num verdadeiro ambiente de prazer, sem ministros ou botas para... enfim!
Só é triste é que no meio disto tudo, me sinto numa galáxia llooooooooonnnnnnnngggggggeeeeeeeeee das galáxias lisboa, braga, etc. Mas felizmente há este forum e outros, onde se pode aprender e crescer até...desistirmos ou conseguirmos mudar alguma coisa...
Desculpem este desabafo, mas por vezes temos necessidade de libertar algumas tensões...